Guimarães quer ser, em 2020, Capital Verde Europeia, um objetivo que pode ser “comprometido” pela poluição que persiste no Rio Ave, com os responsáveis políticos locais a apontarem culpas ao concelho vizinho da Póvoa de Lanhoso.
Fonte do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR assegurou à agência Lusa, no entanto, que desde 2012 não há “qualquer registo” de “ataques ambientais” ao Rio Ave.
Nas freguesias limítrofes de ambos os concelhos – Santo Emilião (Póvoa de Lanhoso), onde funciona uma Estação de Tratamento de Aguas Residuais, e Gondomar (Guimarães) -, os habitantes confirmam que o Ave passa “muitas vezes sujo”, “tipo café com leite” e apontam culpas às pedreiras situadas do lado vimaranense.
“O Rio Ave marca matricialmente Guimarães. Em cerca de 90 quilómetros de extensão, um terço está em Guimarães. É um rio fundamental por ter sido um rio que alimentou os nossos setores de atividades, cutelarias, têxteis, mas que por agora ser um rio onde captamos água tem de [se] ter uma preocupação especial, principalmente tendo em conta a repetição, que considerámos estranha e inqualificável nos últimos meses, de alguns episódios que manifestamente não podem mais acontecer”, disse à agência Lusa Amadeu Portilha, vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Guimarães e responsável pela preparação da candidatura a Capital Verde Europeia.
Sobre os “episódios” a que aludiu, Portilha acrescentou serem conhecidas as fontes: “Já identificamos vários problemas, muitos deles localizados na Póvoa do Lanhoso”.
No mesmo sentido, o presidente da autarquia vimaranense mostrou preocupação com o efeito que a poluição registada no Ave pode ter para o objetivo de Guimarães ser uma referência ambiental a nível europeu.
“Não nos podemos apresentar a uma candidatura desta importância tendo um rio que persiste poluído. Mas não podemos fazer tudo sozinhos. Estamos a fazer a nossa parte”, salientou Domingos Bragança.
Do lado da Póvoa de Lanhoso, a explicação para a poluição no Rio Ave é diferente.
“Sabemos que há problemas no rio mas não entendemos as acusações vindas de Guimarães, não têm cabimento. As suspeitas de descargas ilegais para o Ave recaem sobre empresas do lado de Guimarães, não do nosso”, explicou à agência Lusa fonte da autarquia povoense.
A Lusa tentou contatar o presidente da Câmara, Manuel Batista, o que não foi possível por o autarca estar “fora do país”.
A explicação adiantada por aquela fonte foi, no entanto, corroborada pelo SEPNA da GNR da Póvoa de Lanhoso.
O último auto que se levantou “foi em 2012 e foi devido a uma descarga da ETAR [Estação de Tratamento de Águas Residuais] motivada por uma avaria. Desde então não fomos chamados a atuar em mais nenhuma situação. Sei que houve, há umas semanas, problemas, mas não fomos nós que respondemos à ocorrência”, afirmou fonte do SEPNA.
“Vejo muitas vezes o que toda a gente vê. Hoje pode não estar [sujo] mas amanhã está. Toda a gente diz que é das pedreiras. Isto já não é de agora, já é velho. As pedreiras se são da freguesia de Gondomar pertencem ao concelho de Guimarães”, disse Mário Moreira, habitante de Gondomar, que descreveu como costuma correr ali o Rio Ave.
A água “é como café com leite, ainda mais escura”, especificou.
Apesar desta descrição de um morador no seu concelho, Domingos Bragança, presidente da Câmara de Guimarães, foi perentório: “Se os concelhos a montante não fizerem a [tarefa] deles, nomeadamente a Póvoa de Lanhoso, nós não seremos bem-sucedidos e isso será muito injusto”.
São 12 os itens avaliados para a atribuição do título de Capital Verde Europeia a uma cidade, entre os quais tratamento de águas residuais e gestão da água, eficiência energética, zonas verdes urbanas que integram a utilização sustentável dos solos, natureza e biodiversidade.
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