A anulação da lei dos baldios e a defesa das quotas do leite foram duas das reivindicações hoje deixadas pelas centenas de agricultores de todo o país que participaram, em Braga, numa manifestação por “outra política” para o setor.
Paulo Jorge, pastor de Covas do Barroso, Boticas, ajudava a carregar um caixão onde dizia transportar, simbolicamente, os 350 mil agricultores que nos últimos anos abandonaram a atividades, “por não aguentarem mais”.
“É tudo a subir, menos os preços pagos ao produtor”, queixou-se.
Proprietário de um rebanho com 120 ovelhas, Paulo Jorge adivinha tempos ainda mais difíceis caso a lei dos baldios “vá mesmo para a frente”.
“Se for, praticamente deixaremos de ter onde pôr os animais a pastar”, atirou.
João Dinis, dirigente da Confederação Nacional de Agricultores (CNA), organismo responsável pela manifestação, disse que a nova lei poderá acabar com 70, 80 ou 90 por cento dos baldios.
“É um grande roubo”, criticou.
Durante a manifestação, foram simbolicamente distribuídos nas ruas de Braga cerca de 1.500 litros de leite, num gesto de protesto contra a baixa do preço pago ao produtor e contra o anunciado fim das quotas de produção.
Leite “nacional”, como sublinhou um membro da organização, para vincar o “contraste” com aquele que é importado e que se vende nas grandes superfícies.
Para José Lobato, também da CNA, trata-se do “esmagamento” e da “aproximação do fim” da produção nacional de leite.
“Cada dia que passa há menos uma exploração”, alertou.
Na mira dos manifestantes estiveram ainda a Política Agrícola Comum e o novo Programa de Desenvolvimento Regional, documentos que, como criticaram, “estão a ser feitos para os grandes”, ficando apenas “migalhas” para a agricultura familiar.
“A difícil realidade em que vivemos contraria a intensa propaganda da ministra da Agricultura e do Governo em torno da situação da agricultura e do mundo rural”, refere uma moção, aprovada por unanimidade pelos participantes na manifestação.
A moção exige condições para escoamento a melhores preços, a baixa do custo do gasóleo e da eletricidade agrícolas e indemnizações “justas e pagas a tempo” pelos prejuízos causados pelos lobos.
Entre as reivindicações, contam-se ainda a anulação da lei que “visa roubar” aos vitivinicultores durienses a Casa do Douro e o Património da Lavoura e o fim da “eucaliptização sem freio”.
Esta manifestação foi marcada para coincidir com a inauguração da Feira Internacional de Agricultura, Pecuária e Alimentação “Agro”, que hoje arranca em Braga.
A CNA estava a contar com cerca de 3000 agricultores e 55 autocarros.
Foi de autocarro que chegou, desde Gouveia, Damastor Araújo, nascido a 25 de abril de 1937 e que hoje, aos 77 anos, ainda se dedica à agricultura, cultivando hortaliças, como cebolas e couves “para vender”.
“Mas isto agora não dá nada. Os velhos, que eram quem mais nos comprava, estão nos lares. Os novos vão aos ‘grandes’ e compram lá tudo”, queixou-se.
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