“Passei 2020 longe da maior parte deles. Na verdade no final de 2019 já estava muito farta. Não propriamente deles. Mas de tudo o que os engloba. Tenho lá muitos dos meus. O que me faz prender a tudo o que já quis largar. Durante a pandemia sofri à distância a ver o desgaste de pessoas, serviços e qualidade. E de forma egoista silenciosa agradeci o facto de não estar ali. Mesmo querendo estando. Quando voltei passado um ano, as pessoas já não são as mesmas. O trabalho já não é o mesmo. O hospital já não é o mesmo. O respeito perdeu-se no cansaço e na tristeza. Cada vez que vou trabalhar, vejo um carro funerário. Ou 2. Ou 3.A sair ou a entrar. Achei que estava a ficar paranóica. Mas não. Está mesmo a acontecer. Acho sempre que os turnos vão ser diferentes quando começo. E não são. Acabam sempre da mesma forma. Com uma equipa esgotada e sem grande sucesso nos doentes. Façam o que fizerem. E acreditem que fazem quase o impossível. Esta gente não merece a hipocrisia das palmas as dez da noite. Muito menos falsos agradecimentos.
Esta gente merece que os respeitem. Que lhes paguem. Que respeitem o que é ordenado pela DGS. Pelo bem comum. Para conseguirmos sobreviver em sociedade.
Está tudo em ruptura.
A saúde, a economia, o bom senso, o respeito pelo outro e a grandeza do ser.
Obrigada por se terem juntado no Natal e na passagem de ano. Agora rezem por uma cama no hospital, porque não vai haver.” Um desabafo arrepiante de alguém que vive a pandemia de perto e que nas redes sociais conta com centenas de partilhas.
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